A Falência do Afeto: Quando o Medo Substitui o Cuidado
Há uma lição silenciosa que muitos adultos demoram a compreender: o afeto que não foi dado no tempo certo, provavelmente nunca virá. E quando chega — se é que chega — já não preenche o mesmo vazio. Em muitas famílias marcadas por tradições rígidas, onde o valor da reputação supera o valor das relações, há uma tendência preocupante: a forma se torna mais importante que o conteúdo. A imagem da família perfeita, ordeira, “de respeito”, passa a valer mais do que o cuidado real com seus membros. E assim, na tentativa de construir um modelo familiar que se sustentasse diante do olhar social, muitos pais, mães, tios, avós e irmãos mais velhos esqueceram-se de olhar nos olhos. A preocupação com o escândalo, o vexame, o “o que vão dizer” tomou o lugar do abraço, da escuta, da validação emocional. Foi assim que muitos de nós fomos criados: mais por medo do que por amor. O silêncio virou regra. O choro, fraqueza. O erro, desonra. O respeito, confundido com obediência...